quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Corrida das crianças para a internet desafia companhias

*Texto enviado por Tamara Gonçalves. Confira na página do Valor Online.

Cenário: No Brasil, cerca de 4 milhões de pessoas com idade entre 2 e 11 anos já navegam pela rede

André Borges, de São Paulo
01/02/2010

João Gabriel acabou de completar três anos. Adora jogar bola, é fã de carteirinha dos desenhos do "Ben 10" e não troca por nada as estripulias da "Turma do Cocoricó". O pequeno Gabriel ainda não sabe falar direito, mas já aprendeu a dizer algumas palavras mágicas quando resolve assistir desenhos e ouvir música: "Tube, papai, tube", diz o garoto, apontando para o computador. O pai liga o PC e acessa o site de vídeos YouTube. É uma festa só.

O menino João Gabriel não é uma exceção. Sua desenvoltura com o mundo da internet é o exemplo típico de um comportamento que ganhou milhares de adeptos nos últimos anos e não para de crescer. A pedido do Valor, o Ibope Nielsen fez um levantamento sobre essa corrida das crianças para a internet em todo o país. Foram consideradas apenas aquelas com idade entre 2 e 11 anos.

Em dezembro, das 28,5 milhões de pessoas que navegaram na internet a partir de suas casas, nada menos que 14% - quase 4 milhões de pessoas - eram crianças. Há dez anos, as crianças eram apenas 6% da audiência total da internet residencial. O volume é representativo, dado que, segundo levantamento populacional de 2008 realizado pelo IBGE, há 33,5 milhões de crianças no país com idade entre 2 e 11 anos.

Para os analistas, a explicação por trás desses números passa pela crescente popularização da internet, a redução no preço dos computadores e o desejo dos pais de levar o computador para os filhos.

Mas o que, afinal, essa meninada está fazendo na internet? Os sites de jogos, desenhos e histórias infantis são, tradicionalmente, os líderes de audiência. Hoje, 15% das visitas a sites de jogos - um dos serviços mais procurados na web - são feitas por crianças. Um olhar mais atento, porém, revela que os pequenos também têm outros talentos na hora de navegar. As crianças, principalmente as meninas, diz José Calazans, analista de mídia do Ibope Nielsen, estão cada vez mais interessadas em se comunicar pela rede. "O PC tem se transformado em uma ferramenta de socialização para as crianças", diz. No Orkut, uma das redes sociais mais populares da internet, a criançada já representa 10% das visitas. De cada dez usuários do sistema de troca de mensagens Messenger (MSN), um tem até 11 anos de idade.

Aos poucos, as empresas começam a dar mais atenção para essa audiência. No ano passado, a fabricante de brinquedos Estrela decidiu testar, pela primeira vez, uma estratégia de comunicação para a internet. A companhia injetou R$ 1 milhão em campanhas publicitárias e espalhou anúncios de brinquedos em canais infantis de portais como iG, Terra e UOL. Também investiu nos links patrocinados que acompanham os resultados de busca do Google. "Foi um surpresa para nós. Em apenas seis meses, alcançamos a marca de 7 milhões de cliques", diz Aires Leal Fernandes, diretor de marketing da Estrela.

Para este ano, a fabricante de brinquedos decidiu renovar todo o seu site, que recebe cerca de 90 mil visitas por mês. "Teremos um conteúdo ainda mais interativo. Além disso, ampliaremos a verba de propaganda para a internet."

No UOL, o momento também é de reformulação do canal "Crianças". O novo site estreia em maio. No último trimestre do ano passado, o UOL Crianças registrou 101,7 milhões de páginas visitadas. "Tivemos um crescimento de 138% sobre o terceiro trimestre", diz Manoela Pereira, gerente geral de entretenimento do portal. "Apenas em dezembro, o canal recebeu 392 mil visitantes únicos."

Companhias como os estúdios Disney já mostraram que a brincadeira on-line também é assunto de gente grande. Em 2007, a The Walt Disney Company pagou US$ 350 milhões pelo "Club Penguin". O site, que cria um mundo virtual infantil, é hoje um dos mais acessados pela criançada no Brasil.

Por enquanto, não há notícias de que crianças estão fazendo compras na web, mas isso não significa que elas não estejam, pelo menos, passeando pelos sites de comércio eletrônico. Das quase 4 milhões de crianças que navegaram pela internet em dezembro, mais de 50% - 2 milhões de crianças - visitaram páginas de ao menos uma loja virtual. "É claro que elas não estão ali para comprar algo, mas de alguma forma elas estão chegando até esses sites", diz José Calazans, do Ibope. Boa parte dessa audiência é resultado de buscas por informações de brinquedos ou personagens de desenhos animados. Um estudo recente feito pela consultoria americana Mediamark Research apontou que, nos Estados Unidos, 46,3% das crianças com idade entre 6 e 11 anos estão usando a internet para conferir os produtos que veem na publicidade impressa ou na TV.

Para o cartunista Mauricio de Sousa, a internet "abriu um mundo de novas possibilidades" para se relacionar com as crianças. O criador da "Turma da Mônica" acaba de contratar uma empresa para reformular o site da Turma. "Fizemos um site básico no passado, sem interatividade, mas quando vimos, já estávamos com mais de 20 mil páginas vistas por mês", diz.

O novo site, segundo Mauricio, terá a participação de um investidor externo. Hoje, as páginas eletrônicas da Turma da Mônica trazem algumas tirinhas, desenhos e jogos. Mauricio, que já aderiu ao Twitter e hoje tem 74 mil "seguidores", diz que a nova versão deverá incluir a publicação integral de alguns gibis, além de novas famílias de personagens e até uma área de conteúdo pago.

Ao renovarem seus sites e experimentarem diferentes conteúdos, as empresas do mundo infantil tentam acertar qual é a melhor forma de ocupar seu espaço na internet. "As crianças já estão lá, mas nós ainda estamos aprendendo a como lidar com esse fenômeno", diz Aires Leal Fernandes, da Brinquedos Estrela.

Foi como brincadeira que o "Divertudo" estreou na internet em 1999, diz Evelyn Heine, diretora de conteúdo do site. "No começo era só um hobby, não ganhávamos nada para fazer o site." Hoje o Divertudo recebe 150 mil visitantes únicos por mês, com 1 milhão de páginas vistas. Com a abertura de espaço para anúncios do Google e do Submarino, o site começou a receber uma comissão pelas transações iniciadas em suas páginas. "A brincadeira ficou séria", diz Evelyn. "Já começamos a ter lucro."

Publicado por:
Valor Online
Link:http://www.valoronline.com.br/?impresso/tecnologia_&_telecomunicacoes/277/6080373/corrida-das-criancas-para-a-internet-desafia-companhias
Em 01/2/2010

Enviado por:
Tamara Gonçalves
Projeto Criança e Consumo - Instituto Alana
Tel: +55 11 3472-1608
tamara@alana.org.br

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