
domingo, 16 de maio de 2010
Dica de leitura: A Menina da Bola Rosa

quinta-feira, 13 de maio de 2010
Alô, é a mamãe
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Ponto de vista alternativo sobre a comemoração do Dia das Mães
Confira!
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Publicidade para Crianças - Uma concepção de educação em jogo
Semana passada escrevi – em artigo encomendado pelo jornal Folha de S.Paulo – sobre o caso da escola em São Caetano (SP) que promove viagens de uma agência para a Disney (matéria e artigo estão disponíveis aqui). No artigo, afirmo que o que está em jogo, quando uma escola cede aos apelos da publicidade, é uma concepção de educação.
A serviço de que está a formação dos indivíduos na contemporaneidade? Estaria ela voltada para o desenvolvimento e para o crescimento? Ou estudamos para sermos bem-sucedidos no mercado de trabalho? Ou será que somos educados para sermos cidadãos e vivermos com dignidade e em sociedade? Ou ainda, hoje em dia, formam-se bons consumidores?
Em 2009, neste Observatório, alertei para a entrada sorrateira da publicidade nas escolas através dos professores (ver "A privatização subjetiva dos espaços educativos") como uma forma de privatização (ou mercantilização) subjetiva do espaço escolar e do saber transmitido pela escola.
Formação cada vez mais restrita
Este novo caso mostra que, aos poucos, as mídias e a publicidade adentram o espaço escolar sem qualquer discussão sobre a regulação destas atividades. Em geral, elas representam estratégias de mercado e sua adesão fica a cargo do julgamento particular do(a) diretor(a) da escola ou mesmo de um gestor.
Cabe ressaltar que os alunos não são seres passivos e que negociam necessariamente com as informações que lhes são passadas. Cabe ainda ressaltar que, em uma escola privada, esta questão é ainda mais delicada, pois não podemos entrar em julgamento de valor sobre a educação que cada família resolveu dar aos seus filhos. Na rede pública, caberiam mais questionamentos. Mas isso não quer dizer que na educação privada vale tudo.
Mas, ainda que façamos ressalvas, é preciso que entendamos – e discutamos – que está em jogo uma concepção de educação de forma mais ampla. Está em questão a formação dos indivíduos na modernidade. Uma formação que atende, cada vez mais, aos apelos do mercado, a demandas de empresas e – em especial – às demandas do campo da comunicação, que exige uma escola antenada, moderna, ligada em seu tempo.
Esta formação é, portanto, cada vez menos humana, em seu sentido mais amplo. E atende cada vez menos ao interesse público. É cada vez mais restrita, ao formar indivíduos para uma lógica específica e não para o desenvolvimento de múltiplas possibilidades e trajetórias. Por que formar consumidores, e não indivíduos leitores, reflexivos, críticos, produtores de conhecimento, artistas, investigadores, sonhadores ou lúdicos?
A dimensão dos danos
Os ideais da modernidade têm empurrado as mídias – e agora a publicidade – para dentro das escolas de forma dócil (sem parecer que se trata de um tipo de violência) e desregulada que, certamente, causa efeitos ainda sem possibilidades de mensuração, tanto no ambiente e na comunidade escolar, quanto nas crianças ali socializadas.
A matéria da Folha que relata o caso aponta uma série de efeitos imediatos nestes jovens, mas ainda é cedo para saber que tipo de reverberações este tipo de estratégia de mercado terá na vida de cada criança e na história da educação.
Este episódio nos chama atenção para uma das grandes questões no campo da comunicação na atualidade: a perversidade da publicidade voltada para crianças. Se quando ela é veiculada na televisão já tem um enorme potencial, imaginemos quando ela é veiculada na escola, lugar onde a criança encontra confiança, segurança e referências para a sua vida? Os danos, certamente, têm outra dimensão.
Fonte:
Observatório da Imprensa
27.04.2010
Por Michelle Prazeres
Enviado por:
Marilda Duarte
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quinta-feira, 22 de abril de 2010
Primeira Reunião do GT das Crianças de 6 anos no EF
A reunião do Grupo de Trabalho Crianças de 6 anos no Ensino Fundamental, da Rede Nacional da Primeira Infância foi realizada no último dia 20 de abril, em Brasília.
O encontro teve como objetivo contribuir para que a instrução normativa do MEC de incluir crianças de 6 anos no Ensino Fundamental seja cumprida levando em conta as características infantis e respeitando os direitos assegurados às crianças, entre os quais o direito de brincar.
O encontro contou com o apoio e a participação do MEC com a presença da Profª Rita Coelho, Coordenadora Geral de Educação Infantil - COEDI/SEB/MEC e da Profª Edna Martins Borges, Coordenadora Geral do Ensino Fundamental - COEF, além de técnicos destas coordenações e do INEP. Estiveram presentes, também, representando a UNDIME nacional, a Sra. Vivian Melcop, Secretária Executiva, e o Prof. Luiz Araújo, Consultor Educacional. A Profª Drª Catarina Moro, da UFPR, apresentou os resultados da sua tese sobre o tema. Nesta ocasião, o Prof. Vital Didonet, da Secretaria Executiva da RNPI, destacou a importância de uma ação coordenada e em estreita colaboração dos diferentes atores presentes junto ao Judiciário e ao Legislativo.
Após as apresentações e debates, o GT se reuniu para elaborar o plano de trabalho.
Veja, abaixo, mais detalhes, na súmula da reunião.
Sumula Reunião GT
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Dica de Leitura - Nascidos para Comprar (Juliet B. Schor )

Título: Nascidos para Comprar
Título Original: Born to Buy
Subtítulo: Leitura Essencial para Orientarmos Nossas Crianças na Era do Consumismo, Uma
Autor: Schor, Juliet B.
Editora: Gente
Assunto: Educacao
ISBN: 9788573125702
Idioma: Português
Tipo de Capa: BROCHURA
Edição: 1
Número de Páginas: 344
Nascidos para Comprar (Resenha)
O livro Nascidos para comprar faz uma análise contundente de como a propaganda e o marketing infantil da atualidade influenciam as crianças utilizando estratégias não sempre transparentes para convencê-las de que os produtos são necessários para a sua sobrevivência social. Na verdade, a propaganda vende não apenas o produto, mas também a imagem que as crianças fazem de si mesmas e de como se sentem ao consumi-lo.
O livro disseca a lógica da propaganda procurando tirar conclusões a partir de duas pesquisas primárias: uma investigação qualitativa sobre anúncios e comerciais para crianças e uma avaliação do impacto da cultura do consumo nas crianças, com reflexos em sentimentos como depressão, autoestima, ansiedade e qualidade da relação com os pais.
Nascidos para comprar é leitura obrigatória para todos aqueles que se sentem responsáveis pela construção de uma nova sociedade que será fruto da saúde mental e emocional e do poder de consumo das crianças atuais.
Enviado por:
Marilda Duarte
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terça-feira, 13 de abril de 2010
Agricultores e gestores debatem compras da merenda
A cidade de São Paulo recebe hoje, 13, e quarta-feira, 14, o seminário metropolitano sobre aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar para a alimentação escolar. Promovido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao MEC, o evento ocorre no auditório do Instituto de Previdência Municipal, na Av. Laki Narchi nº 536, no bairro do Carandiru.
O principal objetivo do encontro é aproximar gestores públicos da educação e agricultores familiares de 39 cidades paulistas para que eles aprendam a negociar a venda direta de produtos da agricultura familiar para a merenda escolar, sem necessidade de licitação.
Segundo a Lei 11.947/2009, cerca de R$ 600 milhões - que representam 30% dos recursos enviados pelo FNDE para a alimentação escolar em todo o país - terão de ser aplicados na compra de alimentos de produtores locais.
Desafios - O primeiro dia será voltado apenas aos agricultores, que receberão informações detalhadas sobre a nova lei. Na oportunidade, cada associação e cooperativa irá especificar os alimentos que produzem e dimensionar suas condições de oferta para a alimentação escolar das escolas da região. No segundo dia, esses dados serão apresentados aos gestores municipais que, dessa maneira, terão maior facilidade para planejar suas próximas compras diretamente dos produtores familiares.
Assessoria de Comunicação Social do FNDE
Fonte:
Mercado Ético
13/04/2010 - 17:19:40
Inovação na escola será tema de Congresso em SP
Cerca de 60 palestrantes do Brasil e exterior participam do evento, que inclui Feira
Paulo Saldaña - Especial para o Estadão.edu
Como inovar na educação? Essa é uma pergunta que cerca de 60 palestrantes do Brasil e exterior tentarão responder no 17º Congresso Internacional de Educação, que ocorre entre os dias 12 e 15 de maio em São Paulo. Considerado um dos maiores eventos educacionais do País, o Congresso se propõe a debater neste ano alguns dos desafios enfrentados nas escolas neste novo milênio: o uso da tecnologia, inclusão digital, ferramentas como jogos, a avaliação de competências e tantos outros temas ainda estranhos à maioria das instituições.
Serão mais de 60 encontros, entre conferências e debates, cuja proposta central é "os limites e horizontes da inovação". Direcionado a educadores e profissionais da educação, haverá mesas temáricas sobre conteúdos programáticos, formação de professores e gestão escolar.
TV Estadão: Quais são os desafios para aliar tecnologia à educação?
"Procuramos montar uma programação que alie a questão prática a uma visão de encantamento, sem a qual é impossível fazer uma escola", afirma um dos coordenadores do congresso, Marcos Mello. Em estimativa preliminar, calcula-se que o congresso receba entre 2 mil a 4 mil vistantes. "É um evento que visa receber desde o dono de escola ao profissional do meio acadêmico, o que será estimulante para todos." Paralelo aos encontros, ocorre a Feira Educar, que contará com cerca de 60 empresas expositoras de produtos e serviços.
O novo modelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), terror dos vestibulandos em 2009, ganhará um debate - educadoras de peso compõe a mesa, como a ex-relatorea das diretrizes nacionais do ensino médio Guiomar Namo de Mello e a ex-secretária de Educação do Estado de São Paulo Maria Helena Guimarães.
Mello chama a atenção para as palestras de dois europeus: o francês Marc Giget, fundador do Instituto Europeu de Estratégias Criativas e de Inovação e considerado o maior especialista no assunto na Europa, e o finlandês Reijo Laukkanen, membro do Conselho Nacional de Educação da Finlândia. Laukkanen contará, entre outras coisas, porque seu país tem o mais invejado sistema educacional do mundo.
Por enquanto, os estrangeiros não estão entre os palestrantes mais procurados. Os campeões de inscrições até agora são o téncico de volley Bernardinho e o ex-secretário da Educação e escritor de vários best-sellers, vereador Gabriel Chalita. Informações e inscrições pelo telefone (41) 3033-8100 ou pelo site http://www.educador.com.br/.
Fonte:
Estadao.com.br
09 de abril de 2010 | 11h 45
quinta-feira, 25 de março de 2010
Representação ao Ministério Público de SP - Baby TV
Escrevo para compartilhar com a Rede uma denúncia que fizemos recentemente.
No final do ano passado, o Projeto Criança e Consumo encaminhou notificação à empresa Fox, contestando a forma como vinha anunciando a programação "Baby TV".
Segundo o site e vinhetas, esta seria uma programação especialmente preparada para promover o desenvolvimento de crianças de 0 a 3 anos de idade. Após muito estudarmos o assunto, pudemos concluir que não existem estudos científicos confirmando que assistir à TV antes dos 3 anos de idade possa promover o aprendizado ou o desenvolvimento infantil. Muito ao contrário, há pesquisas que apontam para os malefícios desta exposição precoce à mídia.
Tendo este contexto em vista e o fato de a empresa não ter respondido à notificação encaminhada pelo Projeto Criança e Consumo, foi feita uma Representação perante o Ministério Público de São Paulo.
Para conhecerem o material encaminhado à empresa e ao Ministério Público ou mesmo para acompanharem os andamentos do caso, basta acessar: http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/AcaoJuridica.aspx?v=1&id=143
Tamara Gonçalves
Projeto Criança e Consumo - Instituto Alana
Tel: +55 11 3472-1608
tamara@alana.org.br
sexta-feira, 19 de março de 2010
Waldorf: sem avaliação e sem chumbos
Rudolf Steiner criou as escolas Waldorf em 1919, na Alemanha, dando origem a uma metodologia sem avaliação de desempenho, sem repetição de anos, que respeita as competências exclusivas de cada aluno.
"Nas escolas Waldorf não existe a desonrosa avaliação do desempenho infantil ou juvenil, segundo uma notação numérica importada do mundo industrial. Na realidade, crianças em idade escolar não têm nada a desempenhar nessa fase da vida." Raul Guerreiro, um dos primeiros professores portugueses formados segundo a pedagogia Waldorf, membro do Conselho Nacional Parental das Escolas Waldorf na Alemanha, explica que o mais importante é facilitar a descoberta da vida e remover "empecilhos" nos percursos individuais das crianças, para que assim expressem competências inatas e únicas.
A pedagogia Waldorf, criada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, em 1919, na Alemanha, defende a introdução de duas línguas estrangeiras no primeiro ano escolar, a presença da arte nas salas, trabalhos manuais, valorização de experiências sensoriais, contacto com a natureza. Um método que estimula o acto de brincar e espicaça a imaginação a partir de objectos simples. Um caminho que é feito mais no campo sensorial do que cognitivo. Raul Guerreiro refere que os alunos Waldorf têm um capital de criatividade e independência que, apesar de temporariamente desfasado da escola regular, revela-se mais tarde "como precioso para a sua moderna afirmação como indivíduo livre e socialmente útil, ao longo do seu destino profissional".
Não existe paralelismo entre a pedagogia Waldorf e o currículo oficial. "Na educação Waldorf foi abolido o escandaloso método de repetição de anos. A humilhante prática do ?chumbar' é considerada como frontalmente contrária à condição humana, pois nenhuma biografia pode ser interrompida, em estilo colapso, a fim de se repetir a vida e remeter uma criança, tal qual um produto de segunda escolha, de volta à ?linha de produção'", continua o responsável.
Não há um director e docentes hierarquicamente no patamar inferior. Nas escolas Waldorf há uma direcção colectiva composta por todos os professores e educadores da instituição. Habitualmente é constituído um parlamento escolar, um órgão consultivo, no qual se discutem as questões ligadas à vida da escola. É uma entidade jurídica independente. Rudolf Steiner preconizava que os professores tinham a missão de criar o ambiente mais adequado no qual a criança se educa a si própria. As palavras são suas: "O nosso dever é portanto criar o ambiente mais propício possível para que a criança possa educar-se junto a nós, da maneira que ela necessita segundo o seu destino interior".
Raul Guerreiro fala num "fantasma opressor do moderno mundo escolar". Num território onde, na sua opinião, as crianças são "preparadas estratégica e intelectualmente para ir mais tarde ocupar postos de trabalho". O que não acontece na pedagogia Waldorf em que, sustenta, há um "profundo respeito pelos destinos individuais de cada família e das competências exclusivas demonstradas por cada aluno". E os pais têm um papel activo e determinante, trabalhando com os professores para a "realização democrática de uma auto-administração". "Via da regra, há uma participação entusiasta e total da ala familiar para o ciclo de vida Waldorf completo, de tal modo que não se coloca a questão de uma súbita desistência dos pais, ou de uma crise de adaptação forçada do aluno ao sistema de ensino regular não Waldorf", refere.
Ao ritmo da natureza
As escolas Waldorf espalhadas pelo mundo oferecem 12 anos de escolaridade, o que não acontece em Portugal, mais um ano opcional para quem pretende concorrer ao ensino superior. "O currículo Waldorf de abrangência total orienta-se por critérios antropológico-educacionais próprios, que são um alargamento e aprofundamento radical dos anteriores conhecimentos que regiam o mundo escolar. Não se trata de qualquer currículo adaptado ou modificado a partir dos velhos esquemas tradicionais implantados por uma elite académica, ou pelos imperativos de ordem funcional ou trabalhista da actual sociedade de consumo", sublinha Raul Guerreiro.
Neste momento, há mais de mil escolas Waldorf e perto de dois mil jardins-de-infância. Em Portugal, não chegam aos dedos de uma mão e a pedagogia alternativa começou a ser implementada em 1984. Dois jardins-de-infância em Alfragide e em Sintra, uma escola de educação especial em Seia e a Escola Livre do Algarve, no concelho de Vila do Bispo, regem-se por esta metodologia. São escolas que garantem que não são contrárias ao mundo moderno ou à tecnologia, mas que fazem questão de conhecer em detalhe "as fases correctas da psique infantil", no sentido de uma "saudável introdução gradual das crianças às realidades dos nossos tempos".
No jardim-de-infância São Jorge, em Alfragide, crianças dos 4 aos 6 anos, brincam com objectos poucos elaborados. Brincam livremente, brincam com pedras e conchas, por exemplo. Vinte vagas, 20 crianças. Paula Martinez, responsável pela instituição, assegura que as crianças estão na escola como se estivessem em casa. "As actividades são muito simples e não há notas", adianta.
Os adultos proporcionam o ambiente, respeitam o ritmo de cada criança e a criatividade é um aspecto que acaba por surgir naturalmente. "Os educadores preparam o ambiente para estimular essa criatividade, para que as crianças sejam mais livres e mais criativas." Paula Martinez garante que os mais pequenos integram-se "muito bem" quando passam para o ensino regular. "São crianças que estão muito bem com a vida e que brincam. Estão preparadas para ir para a escola e não gastaram as energias para as quais não tinham capacidade plena", sublinha.
Respeito pelo ritmo de cada um. O processo de desenvolvimento é mais valorizado do que o processo educativo. Não há planos curriculares. A Pé de Romã - Associação para Iniciativas Waldorf, em Sintra, permeia as brincadeiras com actividades artísticas e trabalhos manuais. Dezassete crianças, dos 2 aos 6 anos, fabricam pão, praticam jardinagem, ouvem contos, manipulam marionetas. Os brinquedos são simples, feitos de materiais naturais como madeira, cortiça ou conchas. No exterior, no jardim, penduram-se cordas nas árvores, constroem-se baloiços. Os pais das crianças estão presentes nas festas de aniversário e em várias iniciativas marcadas no calendário.
"Desenvolvemos actividades mais ligadas ao ritmo da natureza ou actividades domésticas", adianta Catarina Melo, da Pé de Romã. E os pais são chamados a participar em diversos momentos. Trabalham na horta, constroem estruturas no jardim. "Precisamos de mãos que nos ajudem." O plano Waldorf passa por dar às crianças as verdadeiras bases para toda a vida. "Se não forem dadas no momento certo, na primeira infância, é mais difícil de serem recuperadas." As crianças sentem dificuldades de adaptação quando passam para o 1.º ciclo? Depende da criança, do professor, da própria fase de adaptação. Uma coisa é certa, os alunos da Pedagogia Waldorf não entram no ensino primário a fazerem cálculos ou a escreverem frases inteiras. Entram "com outras ferramentas e outros recursos". Instrumentos e competências para a vida.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Exemplo de Planejamento e Gestão Urbana - Programa Viva o Morro
Conheça o Programa Viva o Morro, na página da Secretaria de Planejamento e Gestão do Governo de Pernambuco.
"A perspectiva de ver repetidos os acidentes dos últimos invernos, que tiraram vidas e deixaram inúmeras famílias desabrigadas em toda a Região Metropolitana, levou o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife - CONDERM, por iniciativa das Prefeituras dos Municípios, a fazer um alerta e propor a inclusão dos Morros e Encostas na pauta de discussão dos problemas comuns, como uma questão de direito à vida e eleger a implantação de um Programa de Estruturação dos Morros da RMR, como uma das prioridades de intervenção pública, a ser empreendida pelos Governos Federal, Estadual e Municipais, com a participação da comunidade.
Nesse contexto, surgiu o PROGRAMA VIVA O MORRO que é o resultado dessa ação articulada e integrada, desenvolvida com apoio do Governo do Estado, através da Agência CONDEPE/FIDEM para a implementação de intervenções destinadas a promover a estruturação urbana dos morros, objetivando a melhoria e as condições de habilitabilidade e, conseqüentemente, a qualidade de vida da população moradora dessas áreas."
terça-feira, 9 de março de 2010
BA: Crianças ganham “quintal público” para brincar

As crianças da comunidade da Quixabeira, em São Gabriel (BA), pequena cidade a 480 km de Salvador, ganham, neste sábado, um quintal público para brincadeiras e contato com a natureza.
O que antes era um espaço ocioso da prefeitura de São Gabriel vira agora uma grande área para meninos e meninas brincarem de corda e pião, para a brincadeira das cinco pedrinhas, brinquedos cantados, parlendas e cantilenas, histórias, cantigas e tantas outras invenções da infância, realizadas ao ar livre.
Espirais com pedras demarcam o espaço para que as próprias crianças plantem árvores que possam gerar sombra, flores e frutos e, assim, embelezar o lugar onde elas vão brincar.

A criação do quintal é uma iniciativa inédita da Rede Ser-tão Brasil, uma rede de organizações da sociedade civil, cujo denominador comum é a valorização da criatividade, das culturas tradicionais locais e de formas solidárias de sobrevivência.
A proposta prevê a ocupação de espaços públicos ociosos com ações e equipamentos voltados para o público infantil. O ritual de criação do Quintal acontece durante o VI Encontro Ser-tão Brasil nos dias 21 e 22 de novembro.
A metodologia do Encontro Ser-tão Brasil prevê a realização de oficinas diversas ligadas à cultura da infância e ao meio ambiente, para preparar a comunidade anfitriã como cuidadora do Quintal.
O contato com a natureza é, talvez, o que marca a diferença dessa proposta em relação a outros equipamentos urbanos voltados para a criançada, como praças e parquinhos.
Todo o desenho do Quintal é baseado em técnicas de permacultura: uma reunião dos conhecimentos de sociedades tradicionais com técnicas inovadoras, com o objetivo de criar uma “cultura permanente”, sustentável, baseada na cooperação entre os homens e a natureza.
Beth Vieira, gestora da ONG CRIA e membro da coordenação geral do Encontro Ser-Tão Brasil, reforça essa perspectiva. “A natureza é a casa da criança”, afirma.
- Vamos ocupar um espaço público que estava ocioso e dar sentido a esse espaço. Criar um lugar de brincadeiras, de plantar… Um lugar para que as crianças desenvolvam seus brinquedos de forma espontânea e em ligação com a Natureza - opina Beth Vieira.
A educadora sócio-ambiental e pesquisadora associada do Instituto de Permacultura da Bahia, Dalvaci Santiago, explica a importância do Quintal como experiência que valoriza a identidade cultural e o cuidado com o ambiente.
- Em toda comunidade as brincadeiras tradicionais tem em si toda a memória, a filosofia das culturas nativas. A gente perdeu a referência do quintal como o lugar da brincadeira, de contato com terra, bicho, planta e água - argumenta Santiago.
A proposta da Rede Ser-tão Brasil é que essa experiência seja incorporada à cidade como uma política pública. “A prefeitura já se apropriou disso e está assumindo como uma proposta da cidade, com apoio da Fundação Culturarte que é o ponto de cultura local”, diz Beth Vieira.
- Temos aqui em São Gabriel artistas e educadores de 16 municípios baianos e de 12 bairros de Salvador que poderão levar para as suas localidades essa idéia e o jeito de implementá-la. Logo na entrada do Quintal, um portal cujas hastes laterais são duas amendoeiras anuncia e convida: Aqui começa o mundo novo! - destaca a coordenadora.
A Rede Ser-Tão Brasil realiza os encontros homônimos desde 2003. Foram realizados cinco Encontros até 2007, quando o evento passou a ser bianual.
Cada edição traz um lema, construído coletivamente para expressar o “jeito” de cada cidade sertaneja, suas músicas, as riquezas do local e a sabedoria dos mestres populares.
Este ano, o lema do sexto Encontro Ser-Tão Brasil é “Tecendo e Trançando Quintais”, que convoca a um olhar mais cuidadoso para as artes sertanejas.
Fonte:
Terra Magazine - Blog das Ruas
21 de Novembro de 2009
Sugerido por:
Marilda Duarte
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segunda-feira, 8 de março de 2010
A criança… por ela mesma
Em celebração ao Dia da Criança no Rádio e na TV, data instituída pelo Unicef e comemorada amanhã, dia 7 de março, a revistapontocom publica:
- A criança… por ela mesma
Portraits – Autoportraits é o nome do projeto que o cineasta francês Gilles Porte idealizou. A proposta é interessante: ele convidou 80 crianças, com idade entre três e seis anos, de vários cantos do planeta, que ainda não sabem ler nem escrever, para desenhar num vidro.
CONFIRA:
http://www.revistapontocom.org.br
Enviado por:
Isadora Garcia
Instituto Promundo
Rua Mexico 31 / 1502
Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Tel/fax: +(55-21) 2215-5216
www.promundo.org.br
sexta-feira, 5 de março de 2010
Livro “Cultura de Paz: Estratégias, mapas e bússolas” na RNPI
Publicado em 2004 pelo INPAZ e tendo como organizadores Feizi Masrour Milani e Rita de Cássia Dias Pereira de Jesus, a publicação consiste numa coletânea que traz tanto análises e diagnósticos, além de estratégias e princípio norteadores essenciais à construção de uma cultura de paz.
A indicação vem do Instituto ZeroaSeis, por seu presidente João Figueiró, que nos ofereceu a versão digital do livro, agora disponível para consulta, logo abaixo, e para download, no site da Rede.
Cultura de Paz - Estrategias Mapas e Bussolas
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Escolas de SP não se adaptam a aluno de 6 anos
No primeiro ano do ensino fundamental, colégios estaduais e municipais não têm estrutura ou projeto pedagógico adequado
Proposta era mesclar o início da alfabetização com atividades lúdicas, mas professores não foram preparados para isso
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sentada em uma carteira de adulto, Isabela, 6, não consegue colocar o pé no chão. Suas sandalinhas balançam dois palmos acima do solo. Também com os pés no ar, colegas de sala dela sentam com a mochila nas costas, para ficarem próximas à mesa. Outras estão em pé, para alcançar lápis e papel.
"Elas são pequenas para ficar cinco horas aqui. Estão sempre inquietas, incomodadas. Depois do lanche, coçam o olho de sono. Umas dormem apoiadas na mesa", observa Maria, professora da turma.
A cena, passada em uma escola municipal em Cidade Dutra (zona sul), exemplifica a má notícia da volta às aulas na rede pública de São Paulo, segundo docentes: não houve preparação para receber crianças de seis anos nas escolas de ensino fundamental, norma implementada neste ano na cidade.
Até o ano passado, o antigo primário recebia alunos a partir dos sete. Lei federal determinou a antecipação da entrada para que os estudantes pobres tivessem mais um ano de escolarização (crianças na faixa do fundamental devem, obrigatoriamente, estar na escola).
A ideia era que houvesse adaptação para receber as crianças mais novas, com carteiras adequadas, espaços como brinquedotecas e a criação de projeto pedagógico que mesclasse o início da alfabetização com atividades lúdicas.
Nada disso ocorreu na rede pública de São Paulo, segundo professores e diretores ouvidos pela Folha, presidentes das entidades que representam diretores dos colégios, educadores e um membro do Conselho Nacional de Educação. A lei, de 2005, havia dado cinco anos para implementação.
Tanto o governo José Serra (PSDB) quanto a gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM) dizem que a adaptação do novo fundamental já começou, mas admitem que não foi finalizada.
"As crianças reclamam que não têm parquinho, que têm de ficar cinco horas na sala de aula. As carteiras que atendem aos alunos da EJA [antigo supletivo] são as mesmas das dos de seis anos", diz João Alberto Rodrigues de Souza, do Sinesp (sindicato dos dirigentes da rede municipal).
"Não houve capacitação dos professores. É para alfabetizar? É para focar na parte lúdica? Ninguém sabe", diz o presidente da Udemo (sindicato dos dirigentes da rede estadual), Luiz Gonzaga de Oliveira Pinto.
Professor de escola estadual na zona sul, Batista conta que precisa levantar as crianças no colo para elas alcançarem os bebedouros. Elas também têm dificuldades para usar o banheiro.
"Verificamos a falta de adaptação em São Paulo e em boa parte do país", diz o presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, Cesar Callegari. "Muitas redes apenas transferiram a antiga primeira série [alunos de sete anos] para o primeiro ano".
A gestão Kassab diz que a adequação do mobiliário iniciou em 2007, não foi concluída, mas todas escolas serão atendidas. Já o governo estadual afirma que "à medida das diferentes demandas da diretorias de ensino serão encaminhados equipamentos para as escolas".
A prefeitura possui 55,5 mil alunos no novo primeiro ano. O Estado não informou o dado.
Fonte:
Folha de São Paulo
26 de fevereiro de 2009
Indicação:
Profª Drª Maria Letícia B.P. Nascimento
Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
Av. da Universidade, 308 - Sala 104 - São Paulo - CEP 05508-040
Fone: 55 (11) 3091-8267 - Fax: 55 (11) 3815-0297
E-mail: letician@usp.br
Lazer na Rua

O aumento da violência, os perigos do trânsito e a falta de espaços adequados nas cidades, principalmente em metrópoles como São Paulo, fazem com que os pais evitem que seus filhos se relacionem com o ambiente urbano. Com isso, o convívio social e as brincadeiras infantis migram das ruas para os locais privados, como os condomínios fechados. Mas quais são os malefícios trazidos por essa falta de contato externo? Quais as formas de driblar os percalços da contemporaneidade para que os filhos possam usufruir esse espaço de convivência e sociabilização? Em artigos exclusivos, o doutor em ciências humanas e professor do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP) José Guilherme Cantor Magnani e a arquiteta e urbanista Claudia Oliveira debatem a questão.
A rua, espaço público como lugar de brincar
por Claudia Oliveira
Por que torn

Em São Paulo, há escassez de espaços públicos e carência de locais de brincar. Por vezes, o único espaço público aberto que encontramos próximo às residências é a rua, que foi invadida por automóveis e pela insegurança; as calçadas foram ficando menores e esburacadas; e a criança foi perdendo o seu espaço de brincar. Muitas passam a não conhecer sua rua, os limites de seu bairro, e não podem circular livremente pelo entorno de suas casas.
A rua é um espaço público multifuncional que está indiscriminadamente presente em toda a cidade, é o espaço que se encontra à porta das casas, rico de oportunidades, dinâmico, significando sedução, estímulos e descoberta. Precisamos nos reeducar para poder formar a criança no espaço da cidade, utilizar a rua, melhorar a qualidade de vida e revitalizar o tecido urbano degradado.
Hoje as crianças apresentam mudanças na percepção e exploração dos espaços, pois não os vivenciam. Muitas crianças que não se movimentam e ficam fechadas dentro de suas casas se tornam agressivas e individualistas. A falta de movimento do corpo pode provocar doenças como a obesidade, que, somada à falta de recreação em espaço aberto, pode causar no futuro problemas cardíacos e pulmonares.
É no dia-a-dia, experimentando o espaço no tempo, que a criança vai trabalhando seu corpo e sua mente. A necessidade de movimento é absolutamente fundamental, sua aprendizagem envolve força muscular, equilíbrio, agilidade, resistência, ritmo e sentimentos, como afetividade, medo, espanto. Segundo o doutor Wallon [WALLON, Henri. Les Ages de l'Enfant Vers une Vie d'Homme. Paris: Universitaries, 1973], "a criança em desenvolvimento necessita de movimento, de ação, de gritos, do exercício de todos os seus aparelhos sensoriais e motores. Toda frustração de suas necessidades se traduz em fadiga, irritação e agressividade, entre outras."
No ser humano, o controle dos movimentos é uma das condições essenciais da autonomia e do equilíbrio pessoal. Graus de equilíbrio são necessários para que o desenvolvimento da criança seja bem-sucedido.
Assistindo à televisão ou utilizando o computador, a criança não partilha suas emoções e não explora suas possibilidades; são situações, espaços, tempos diversos da vida real em que trabalha pouco a criatividade, porque tudo já vem pronto.
A criança em desenvolvimento necessita do exercício de todos os seus aparelhos sensoriais e motores e de espaço para brincar e pôr em movimento todos os músculos do corpo numa desordem útil, que a ginástica e o esporte não suprem. Os neurônios precisam de determinados estímulos para desenvolver habilidades como visão, coordenação motora e linguagem. A falta desses estímulos, no momento adequado, pode comprometer irreversivelmente a formação da criança.
Ela necessita explorar o espaço de várias formas para poder, no futuro, possuir diversos registros acumulados para planejar, executar a ação certa e inventar novas ações a ser aplicadas a situações inéditas.
A criança, brincando, no espaço externo junto à natureza, com tempo, liberdade e outras crianças, recebe estímulos constantes e variados, trabalha e enriquece a sua percepção do espaço, cria suas próprias regras e limites, e desenvolve a sua sensibilidade, coordenação motora, imaginação, mente e criatividade, socializando-se, trocando experiências, respeitando, criando vínculos com outras crianças e com adultos de diversas classes sociais, crenças, raças, culturas e etnias, e aprende a ser solidária.
O espaço lúdico é o caminho mais eficaz para a aprendizagem: encanta, motiva e desperta na criança a curiosidade e o desejo de aprender. O contato com a natureza fornece à criança, dada a sua dinâmica, ritmo e riqueza de informações, tais como vento, calor, perfumes, cantos dos pássaros, luminosidade, sombras, coloridos e formas, estímulos constantes à observação, à exploração, ao aprendizado e à criatividade.
Crianças brincando juntas constituem um potencial para trocas, convivência, integrações, compartilhamento, diversidades que se completam. Entre todos os tipos de espaço, é o espaço público, espaço de todos, que proporciona uma fonte de estímulos, riquezas, conhecimentos, aprendizados, inter-relacionamentos, e desempenha um importante papel no processo de formação da criança.
Elas precisam ter condições para elaborar o próprio projeto de vida, trabalhar sua auto-estima estimulando o prazer do aprendizado, sentindo-se valorizadas, e tendo ajuda para poder se afastar das drogas, das más companhias, sentindo-se dignas e podendo passar a exigir os seus direitos e cumprir os seus deveres num verdadeiro exercício de cidadania. Para podermos viver na cidade, num ambiente de uso comum, precisamos aprender a "conviver", ou seja, "viver com os outros e no espaço de todos", diminuindo a violência urbana e a segregação social.
Através do brincar, desenvolve-se o hábito de respeito ao semelhante e a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, possibilitando o desenvolvimento e a reintegração de crianças, através de atividades que possibilitem a auto-estima e aquisição de conhecimentos para sua evolução como cidadãos, na atuação para um mundo mais justo e humano.
O espaço público, entre outros, a rua, é o espaço da sociedade, do uso coletivo, do reencontro do homem com a natureza, da troca de valores das crianças e dos adultos de várias faixas etárias, raças, crenças, etnias, culturas e classes sociais, da participação comunitária, de todos compartilhando um espaço comum e interagindo entre si, em clima alegre, espontâneo e despretensioso.
A rua é um espaço que se abre ao firmamento, dá o sentido de liberdade, de movimento, de ação e de transformação, "o céu em permanente mudança". Como nos diz Santos e Vogel [SANTOS, Carlos Nelson Ferreira; VOGEL, Arno. Quando a Rua Vira Casa. Rio de Janeiro: Finep/Ibam, 1981], a riqueza das experiências possíveis numa rua não pode ser mimetizada por nenhuma instituição pedagógica, inclusive pela forma de apreensão não analítica, através da qual a diversidade social pode ser vista, percebida e compreendida. A rua é, mesmo, um microcosmo real. É o elemento estruturador da cidade, muitos olhos podem garantir sua segurança; eles asseguram que nada passa despercebido. São olhares dos que supervisionam o espaço que pertence a todos em comum, com a convicção de intervir e partilhar uma responsabilidade coletiva do lugar dinâmico, de livre acesso, no qual todos se encontram, universo de múltiplos eventos e relações.
Mayumi S. Lima [LIMA, Mayumi Souza. A Cidade e a Criança. São Paulo: Nobel, 1989] já questionava: os espaços da cidade, como as praças e principalmente as ruas dos bairros da periferia, poderiam ser pensados para o uso prioritário das crianças e das famílias e secundário dos carros, tal como ocorre nos calçadões centrais. A possibilidade da proibição de carros é aventada quando o interesse é comercial. Por que não para atender ao interesse das crianças?
Hoje é tempo de conquistar coletivamente e utilizar a rua, o espaço público que flui pela cidade e lhe dá continuidade, além de proporcionar elementos para que a criança reconheça esse espaço como sendo o seu espaço, e se necessário transformá-la no lugar de brincar.
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CLAUDIA OLIVEIRA É ARQUITETA, URBANISTA E AUTORA DO LIVRO O AMBIENTE URBANO E A FORMAÇÃO DA CRIANÇA (EDITORA ALEPH, 2004)
O pedaço das crianças
por José Guilherme Cantor Magnani
Nos tempos qu

Essa oposição entre espaço público e espaço doméstico, bastante conhecida, ganhou novas conotações a partir do trabalho do antropólogo Roberto da Matta, que a transpôs para uma fórmula mais concreta: casa versus rua. Cada um desses termos resume um conjunto de características que se contrapõem, mas também esclarecem um ao outro. Assim, "casa", que representa o domínio do privado, é o espaço das relações de sangue, do contato íntimo, da segurança; "rua", ao contrário, é o domínio do público, das oportunidades, dos estranhos, e também do perigo. As crianças conhecem muito bem essa diferença: "Já pra casa, menino!" Ou então: "Que está fazendo até essa hora na rua?"
Entretanto, com base em pesquisas antropológicas que desenvolvi na periferia da cidade de São Paulo, e depois em regiões mais centrais, introduzi um terceiro termo nessa relação, o "pedaço": trata-se de um espaço intermediário entre a casa e a rua. É quando, de um lado, a casa se abre para fora e, de outro, a rua se torna mais acolhedora: do encontro, da interseção entre ambos é que surge o pedaço, vocábulo usual na linguagem comum, mas que pode ser tratado como uma noção mais geral, uma categoria que também designa relações, regras, normas. Assim foi definido, no livro Festa no Pedaço:
"O termo, na realidade, designa aquele espaço intermediário entre o privado (a casa) e o público, onde se desenvolve uma sociabilidade básica, mais ampla que a fundada nos laços familiares, porém mais densa, significativa e estável que as relações formais e individualizadas impostas pela sociedade. Pessoas de pedaços diferentes, ou alguém em trânsito por um pedaço que não o seu, são muito cautelosas: o conflito, a hostilidade estão sempre latentes, pois todo lugar fora do pedaço é aquela parte desconhecida do mapa e, portanto, do perigo. Para além da soleira da casa, portanto, não surge repentinamente o resto do mundo. Entre uma e outro situa-se um espaço de mediação cujos símbolos, normas e vivências permitem reconhecer as pessoas diferenciando-as, o que termina por atribuir-lhes uma identidade que pouco tem a ver com a produzida pela interpelação da sociedade mais ampla e suas instituições" (MAGNANI, José Guilherme, Festa no Pedaço. São Paulo: Editora Hucitec, 1998, p. 116-117).
Pelo fato de intermediar os dois domínios, o pedaço apresenta características de ambos, combinando-as, porém, na forma de novas regras: da casa reproduz o ambiente de segurança e, da rua, a novidade, o imprevisto, a possibilidade de contato com pessoas que não estão vinculadas pelos laços de parentesco. Os freqüentadores de um pedaço, ou aqueles que podem circular por ele não são totalmente estranhos. Dessa forma, o pedaço pode ser considerado uma espécie de transformação, de abertura da casa em direção ao espaço público, englobando-o.
É nessa condição que se institui um espaço privilegiado para o exercício da sociabilidade. No caso das crianças, é aí que podem iniciar-se, desde cedo, no exercício da cidadania, pois entram em contato com outro ambiente, com outras pessoas, precisam conhecer novas regras de convivência, entre as quais aprender a compartilhar, ceder, negociar... Pode parecer muita responsabilidade, tarefa de adultos, mas é no ambiente lúdico que essas regras se internalizam.
Na verdade, isso não constitui nenhuma novidade, os educadores sabem muito bem. O importante, entretanto, é assinalar que o pedaço, como uma espécie de modulação da rua, precisa ser construído. Não está dado, não foi previsto pelo planejamento urbano, é antes o resultado de um investimento em termos de presença, uso e criatividade por parte dos usuários. Na verdade, precisa ser conquistado. Em vez do movimento de retração em direção ao espaço fechado, isolado, superprotegido, como resposta à violência, é preciso fazer com que a rua, o símbolo da convivência urbana, volte a ser mais segura, hospitaleira e acolhedora. Para isso, é preciso ocupá-la. A propósito, cabe aqui o relato de uma experiência, descrita e analisada por um grupo de alunos meus (Fábio Peixoto, Jade Percassi, Marina Couto, Sandra Bitar - Infância na Metrópole: o Tempo Livre das Crianças Que Freqüentam o Projeto Piá, 2001) como trabalho de conclusão da disciplina Pesquisa de Campo em Antropologia, na USP.
Foi uma pesquisa desenvolvida no âmbito do Instituto Cactus de Educação e Cultura, conveniado com a Faculdade de Educação da USP e Secretaria Municipal de Educação. O que quero ressaltar não é tanto a atividade pedagógica em si, muito interessante, mas a forma como as crianças, à época um grupo de cerca de 20 integrantes, de 2 a 12 anos, se dirigiam ao local do projeto: provenientes de vários cortiços da região, encontravam-se na esquina das Ruas Lopes Chaves com Margarida, na Barra Funda, na Casa de Mário de Andrade. A partir daí, acompanhadas apenas por uma educadora, percorriam, cantando, um itinerário pelas ruas do bairro até o Centro Educacional e Esportivo Raul Tabajara, onde se situa seu pedaço de destino. O importante a assinalar aqui é a constituição de um trajeto (outra das categorias que utilizo nas pesquisas sobre espaço urbano, correlato ao de pedaço) por vias públicas, numa estratégia que as tornava visíveis, despertando atenção, curiosidade. À vista daquele bando ruidoso, transeuntes e pessoas do entorno deixavam, por momentos, suas ocupações habituais e, das portas ou janelas de seus carros, casas, escritórios e oficinas, formavam uma ola de vigilância, no estilo que Jane Jacobs denomina o balé das calçadas, a proteção a partir dos múltiplos olhares (Vida e Morte de Grandes Cidades, Martins Fontes, 2003).
Assim, vemos aqui o pedaço no momento da partida ou encontro, um trajeto, e finalmente o pedaço de destino, na forma de uma estratégia simples e ao mesmo tempo ousada, instituindo uma verdadeira experiência de ocupação de ruas e equipamentos públicos que, ao menos em determinados momentos, foram transformados em espaços protegidos, acolhedores, mas não confinados, repletos de estímulos produzidos pela própria dinâmica urbana.
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JOSÉ GUILHERME CANTOR MAGNANI É DOUTOR EM CIÊNCIAS HUMANAS PELA FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS (FFLCH) DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) E PESQUISADOR QUE ATUA NA ÁREA DA ANTROPOLOGIA URBANA, COM ENFOQUE EM MODALIDADES DE LAZER, CULTURA E SOCIABILIDADE NA METRÓPOLE
Fonte:
Revista SESC SP
n. 116
Janeiro de 2007
Sugerido por:
Marilda Duarte
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