* Matéria do Jornal Estado de São Paulo, enviada por Marilda Duarte
VIDA &
Estudo aponta que elas têm dificuldade de cuidar de si e dos filhos por não entender cartilhas nem o que diz o médico
Lisandra Paraguassú, Brasília
O problema de saúde de uma parcela considerável das mulheres brasileiras é simplesmente a falta de educação. A 3ª Pesquisa Nacional de Demografia em Saúde (PNDS), apresentada ontem em Brasília, mostra que 10% das mulheres brasileiras - cerca de 10 milhões de pessoas - têm dificuldades de cuidar de si e de seus filhos e até mesmo ter acesso às políticas públicas de saúde porque não têm escolaridade básica. E o próprio governo não sabe como chegar até esse grupo, que não consegue ler nem sequer uma cartilha educativa ou, muitas vezes, não entende o que o médico do posto de saúde está tentando explicar.
O estudo, feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) com o apoio do Ministério da Saúde, traz, de um modo geral, boas notícias. Entre 1996, quando a PNDS anterior foi feita, e esta última com dados de 2006, a mortalidade infantil caiu 44%. Apenas 3,6% das mulheres não têm acesso a consultas pré-natal, e a desnutrição aguda das crianças está em 1,6%, abaixo do limite de referência da Organização Mundial da Saúde (OMS). Há mais mulheres com acesso a métodos anticoncepcionais e medicamentos, além de tratamento em hospitais.
No entanto, o grupo daquelas que não conseguiram se beneficiar do maior acesso à escola, ampliado na última década, também ficou de fora dos grandes avanços da saúde brasileira. Com isso, transmitem os problemas para seus filhos.
A pesquisa mostra que, apesar da redução na mortalidade infantil no País, 20% dos filhos nascidos vivos de mulheres sem estudo morrem antes de completar um ano. Na faixa superior de escolaridade, com 12 anos ou mais de estudo, a mortalidade dos bebês é praticamente zero.
Até mesmo o direito de escolher ter esses filhos é mais difícil para as mulheres com menor escolaridade, basta ver as diferenças nas taxas de fecundidade. Enquanto aquelas com mais estudo têm, em média, um filho - inferior até mesmo à taxa de reposição da população, que é de dois filhos - mulheres que nunca freqüentaram a escola têm, em média, 4,2 filhos. Ainda uma parte não desprezível dos filhos dessas mulheres (16,6%) sofre de desnutrição crônica, um problema que não mata, mas afeta o desenvolvimento da criança, sua capacidade de aprender e de reagir a doenças.
A resposta oficial a esses dados é que a educação no País está evoluindo e, em alguns anos, o número de mulheres sem escolaridade deve ser reduzido a ponto de não ter impacto no geral. Em 1996, eram 28% da população. Hoje, são 10%. "Vários estudos relacionam o aumento da escolaridade e o conseqüente aumento da renda com um impacto direto nas condições de saúde. Está havendo uma ampliação da escolaridade, e isso tem impacto direto na saúde", disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
Até lá, no entanto, o equivalente a 10 milhões de mulheres e seus muitos filhos continuam a enfrentar dificuldades típicas da pobreza e da falta de instrução. "Todo setor tem que pensar nas suas responsabilidades. As políticas públicas de saúde têm que pensar como chegar a essas mulheres. Não pode ficar pensando que outro setor, outra ação vai resolver o problema. Não podemos esperar que a educação chegue até elas e aí que as coisas se resolvam", critica Suzana Cavenaghi, demógrafa e uma das autoras da PNDS.
Alimentação
A falta de estudo leva à falta de renda e também à insegurança alimentar. Apesar dos avanços, já que 62,5% das famílias podem ser consideradas em situação de segurança (em que não há preocupação com a possível falta de comida), em 46% dos domicílios em que a mulher não tem estudo há insegurança alimentar.
Outros dados
Anticoncepcional: 99,9% das mulheres brasileiras conhecem algum método anticoncepcional e 67,8% fazem uso deles. No entanto, 77,8 % disseram nunca ter usado camisinha
População: o número absoluto de crianças até 9 anos no País caiu entre 1996 e 2006. Hoje, elas representam 16,5% da população. Do outro lado, 1,5% dos brasileiros já tem mais de 80 anos
Desnutrição infantil: a crônica caiu pela metade entre 1996 e 2006 e está hoje em 6,8% dos menores de 5 anos. Os fatores principais para essa queda foram o aumento da escolaridade das mães e da renda familiar
Obesidade infantil: há no Brasil quase tantas crianças acima do peso quanto com desnutrição. Elas representam 6,6% das menores de 5 anos. Esse porcentual aumenta quando crescem os anos de estudo da mãe
Cesarianas: as cesáreas aumentaram de 36% em 1996 para 44% em 2006, indo na contramão da política do Ministério da Saúde. Nas áreas rurais, o índice de cesáreas passou de 20% para 35%. No sistema privado, elas já representam 77% dos partos
Pré-Natal: 61% das mulheres brasileiras hoje fazem mais de sete consultas pré-natal. No entanto, os procedimentos não são completos. Apenas 31% delas recebem as vacinas antitetânicas necessárias para uma gravidez e parto seguros
Amamentação: em média, as crianças brasileiras são amamentadas exclusivamente com leite materno por 2,2 meses, contra os seis recomendados pelo Ministério da Saúde.
Fonte:
Estadao.com.br
4 de julho de 2008
Enviado por:
Marilda Duarte
www.textoseideias.com.br
Celular 11 8259 9733
VIDA &
Estudo aponta que elas têm dificuldade de cuidar de si e dos filhos por não entender cartilhas nem o que diz o médico
Lisandra Paraguassú, Brasília
O problema de saúde de uma parcela considerável das mulheres brasileiras é simplesmente a falta de educação. A 3ª Pesquisa Nacional de Demografia em Saúde (PNDS), apresentada ontem em Brasília, mostra que 10% das mulheres brasileiras - cerca de 10 milhões de pessoas - têm dificuldades de cuidar de si e de seus filhos e até mesmo ter acesso às políticas públicas de saúde porque não têm escolaridade básica. E o próprio governo não sabe como chegar até esse grupo, que não consegue ler nem sequer uma cartilha educativa ou, muitas vezes, não entende o que o médico do posto de saúde está tentando explicar.
O estudo, feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) com o apoio do Ministério da Saúde, traz, de um modo geral, boas notícias. Entre 1996, quando a PNDS anterior foi feita, e esta última com dados de 2006, a mortalidade infantil caiu 44%. Apenas 3,6% das mulheres não têm acesso a consultas pré-natal, e a desnutrição aguda das crianças está em 1,6%, abaixo do limite de referência da Organização Mundial da Saúde (OMS). Há mais mulheres com acesso a métodos anticoncepcionais e medicamentos, além de tratamento em hospitais.
No entanto, o grupo daquelas que não conseguiram se beneficiar do maior acesso à escola, ampliado na última década, também ficou de fora dos grandes avanços da saúde brasileira. Com isso, transmitem os problemas para seus filhos.
A pesquisa mostra que, apesar da redução na mortalidade infantil no País, 20% dos filhos nascidos vivos de mulheres sem estudo morrem antes de completar um ano. Na faixa superior de escolaridade, com 12 anos ou mais de estudo, a mortalidade dos bebês é praticamente zero.
Até mesmo o direito de escolher ter esses filhos é mais difícil para as mulheres com menor escolaridade, basta ver as diferenças nas taxas de fecundidade. Enquanto aquelas com mais estudo têm, em média, um filho - inferior até mesmo à taxa de reposição da população, que é de dois filhos - mulheres que nunca freqüentaram a escola têm, em média, 4,2 filhos. Ainda uma parte não desprezível dos filhos dessas mulheres (16,6%) sofre de desnutrição crônica, um problema que não mata, mas afeta o desenvolvimento da criança, sua capacidade de aprender e de reagir a doenças.
A resposta oficial a esses dados é que a educação no País está evoluindo e, em alguns anos, o número de mulheres sem escolaridade deve ser reduzido a ponto de não ter impacto no geral. Em 1996, eram 28% da população. Hoje, são 10%. "Vários estudos relacionam o aumento da escolaridade e o conseqüente aumento da renda com um impacto direto nas condições de saúde. Está havendo uma ampliação da escolaridade, e isso tem impacto direto na saúde", disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
Até lá, no entanto, o equivalente a 10 milhões de mulheres e seus muitos filhos continuam a enfrentar dificuldades típicas da pobreza e da falta de instrução. "Todo setor tem que pensar nas suas responsabilidades. As políticas públicas de saúde têm que pensar como chegar a essas mulheres. Não pode ficar pensando que outro setor, outra ação vai resolver o problema. Não podemos esperar que a educação chegue até elas e aí que as coisas se resolvam", critica Suzana Cavenaghi, demógrafa e uma das autoras da PNDS.
Alimentação
A falta de estudo leva à falta de renda e também à insegurança alimentar. Apesar dos avanços, já que 62,5% das famílias podem ser consideradas em situação de segurança (em que não há preocupação com a possível falta de comida), em 46% dos domicílios em que a mulher não tem estudo há insegurança alimentar.
Outros dados
Anticoncepcional: 99,9% das mulheres brasileiras conhecem algum método anticoncepcional e 67,8% fazem uso deles. No entanto, 77,8 % disseram nunca ter usado camisinha
População: o número absoluto de crianças até 9 anos no País caiu entre 1996 e 2006. Hoje, elas representam 16,5% da população. Do outro lado, 1,5% dos brasileiros já tem mais de 80 anos
Desnutrição infantil: a crônica caiu pela metade entre 1996 e 2006 e está hoje em 6,8% dos menores de 5 anos. Os fatores principais para essa queda foram o aumento da escolaridade das mães e da renda familiar
Obesidade infantil: há no Brasil quase tantas crianças acima do peso quanto com desnutrição. Elas representam 6,6% das menores de 5 anos. Esse porcentual aumenta quando crescem os anos de estudo da mãe
Cesarianas: as cesáreas aumentaram de 36% em 1996 para 44% em 2006, indo na contramão da política do Ministério da Saúde. Nas áreas rurais, o índice de cesáreas passou de 20% para 35%. No sistema privado, elas já representam 77% dos partos
Pré-Natal: 61% das mulheres brasileiras hoje fazem mais de sete consultas pré-natal. No entanto, os procedimentos não são completos. Apenas 31% delas recebem as vacinas antitetânicas necessárias para uma gravidez e parto seguros
Amamentação: em média, as crianças brasileiras são amamentadas exclusivamente com leite materno por 2,2 meses, contra os seis recomendados pelo Ministério da Saúde.
Fonte:
Estadao.com.br
4 de julho de 2008
Enviado por:
Marilda Duarte
www.textoseideias.com.br
Celular 11 8259 9733
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