segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Estudos mostram que intervenção precoce dos governos na educação pode modificar trajetória que leva à desigualdade

*Texto enviado por Tamara Gonçalves. Confira na página da Folha de São Paulo.

SÃO DE extrema importância -e deveriam nortear o planejamento da educação no Brasil- algumas ideias expostas no seminário "Educação da Primeira Infância", recentemente realizado na Fundação Getúlio Vargas do Rio. O encontro de economistas tinha como meta declarada "inserir a educação de zero a seis anos de idade no centro da agenda de políticas sociais brasileiras".

Os anos de escolaridade cresceram em todas as faixas de renda do país desde os anos 90, e o ensino fundamental foi na prática universalizado. Mesmo quando se divide a população brasileira de 15 anos de idade de acordo com o nível educacional da mãe, o que em geral tem relação proporcional com a renda, é possível notar grandes avanços.
Em 1995, os filhos de mulheres que tinham menos de um ano de estudo formal haviam passado, em média, três anos na escola ao completarem 15 anos. Em 2007, nessa mesma faixa etária, os alunos já acumulavam, em média, mais de cinco anos de estudo. O tempo na escola de alunos oriundos de famílias pobres se aproxima do padrão dos mais ricos. De 1995 a 2007, os filhos de mulheres com mais de 12 anos de escolaridade passaram de seis para sete anos de estudo aos 15 anos, em média.

O dado preocupante surge quando se compara o rendimento alcançado por esses diferentes grupos em avaliações objetivas. Tomando a nota do Sistema de Avaliação da Educação Básica como critério, pesquisadores mostraram que o rendimento dos filhos de mulheres com menor escolaridade, em 2005, seguia quase tão distante daquele dos oriundos de famílias mais escolarizadas quanto em 1995.

Em palestra na FGV, o economista americano James Heckman, Prêmio Nobel de 2000, relacionou essa ineficiência do ensino com a carência na oferta de educação pré-escolar. Em artigo para o livro "Educação Básica no Brasil" (ed. Campus), Heckman, em companhia de três economistas brasileiros, havia mostrado que 93% da diferença cognitiva medida entre estudantes de diferentes origens sociais aos 13 anos de idade já estava presente aos 5 anos de idade.


Ou seja, até essa faixa etária, a família e os diferentes estímulos recebidos pelas crianças são decisivos para a sua capacidade no futuro. Com o objetivo de compensar ao menos parte das deficiências no ambiente familiar dos mais pobres, é preciso que os governos ampliem depressa a oferta de educação pré-escolar de qualidade para esse segmento da população.


Publicado por:

Folha de S. Paulo, Opinião - Editoriais
Em 2/1/2010

Enviado por:
Tamara Gonçalves
Projeto Criança e Consumo - Instituto Alana
Tel: +55 11 3472-1608

tamara@alana.org.br


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